Diante da rápida disseminação do vírus Covid-19 e, por consequência, a imposição da quarentena, uma profunda transformação se intensificou, em especial no setor de varejo. Empresas que antes viam a digitalização e o e-commerce de forma optativa, mesmo já sofrendo desvantagens das que possuíam essa nova forma de trabalhar já implementada, precisaram adotar essa opção diante da situação atual.
O varejo físico já vinha sofrendo os efeitos do aumento do e-commerce em todo o mundo, em especial nos EUA, país de origem da maior loja eletrônica, a Amazon, mas chegada da pandemia, que obrigou o fechamento das portas de diversas lojas, fez com que uma situação que já era delicada se tornasse ainda mais dramática.
E não apenas lojas pequenas sofreram com a atual situação. A Neiman Marcus foi a primeira das grandes cadeias varejistas a pedir concordata, no dia 7 de maio, com dívidas na ordem de US$ 4 bilhões. Um dia após o pedido de proteção à falência, a rede JC Penney, que já estava há 188 anos no mercado, sucumbiu ao fechamento de 800 lojas nos EUA e a dívidas de US$ 1 bilhão.
De fato, é indiscutível que o Covid-19 acelerou, ou ao menos potencializou, essa decadência do varejo físico e sua necessidade de modernização. A necessidade de manutenção de espaços físicos e de grandes estoques pelo varejo trouxe enormes danos às varejistas no momento em que estas se viram fechadas. Assim, a quarentena imposta transformou negócios de varejo e comportamentos sociais e de consumo ao redor do mundo.
Relações de consumo
O varejo brasileiro projeta uma retomada completa apenas para 2021, e isso gera um impacto profundo no perfil do consumidor que emergirá da crise, seja por questões econômicas ou emocionais.
Pessoas que antes preferiam adotar compras tradicionais foram altamente incentivadas a recorrer a prática do modelo digital durante a pandemia, seja para se alimentar, comprar remédios ou outros serviços essenciais, seja para adquirirem itens que acrescentassem em seu home office ou seu bem-estar em casa. Isso permitiu diversas pessoas desfrutarem de vantagens como comodidade e maior facilidade pela pesquisa de preços, o que leva o consumidor a ter a percepção que está comprando mais barato.
O crescimento do comércio eletrônico no Brasil acelerou 30% nas últimas cinco semanas, de acordo com a associação de e-commerce ABComm, com medidas de isolamento social atraindo novos consumidores e levando varejistas a desenvolver canais digitais de vendas.
Digitalização do Setor
As empresas líderes estão absorvendo esse processo de digitalização como um todo, ao longo de suas cadeias verticais (processos operacionais) e horizontais ( com parceiros). Além disso, estão aumentando seu portfólio de produtos com funcionalidades digitais e introduzindo serviços inovadores baseados em dados.
Nesse contexto, é possível destacar um termo muito discutido, o da Indústria 4.0, que traz consigo mudanças tecnológicas no que se refere aos níveis de conectividade do sistema de produção. Muito presente também na Internet das coisas ou IoT, que seria a presença de ferramentas que promovem um amplo armazenamento e acesso aos dados gerados pelos produtos, além das ferramentas, como as de Business Intelligence (BI), que permitem um nível mais elevado na tomada de decisões dentro do ambiente fabril, facilitando a interação com as máquinas para pouca ou nenhuma interação humana. Toda essa inovação tem por finalidade simplificar, automatizar, baratear e tornar o processo mais assertivo, diminuindo custos.
Esse desenvolvimento irá mudar fundamentalmente cada empresa, assim como a dinâmica do mercado. Esse movimento é esperado para países desenvolvidos e emergentes, englobando toda a cadeia. A seguir os principais fatores que direcionam a mudança:
- Aumento da receita digital: A maior parte das empresas brasileiras prevê aumento de mais de 10% em sua receita anual com a digitalização;
- Redução dos custos: Estar presente no ambiente digital é significativamente mais barato do que a abertura de uma loja física, onde se possui custos básicos de funcionamento e impostos. Além da maior praticidade para o ato da compra, melhor utilização dos ativos e controle de estoque;
- Inovação incremental de produtos e serviços: Para que a receita cresça, as empresas irão lançar novos produtos com características digitais e assim aumentarão o portfólio existente. Já em relação aos serviços digitais com base na análise de dados, ou soluções completas identificadas pela necessidade do cliente, conduzirão o crescimento das receitas;
- Compromisso de investimento alto: Globalmente, as empresas planejam investir no mínimo 5% das receitas nesse novo modelo. Esses investimentos estão focados em tecnologias digitais, softwares e suas aplicações, treinamento de funcionários e na condução da mudança organizacional.
- Confiança digital é imprescindível: A implementação digital só é realmente eficaz se todos os envolvidos confiarem na segurança de seus dados. Para isso é necessário um alto investimento em LGPD e ter diretrizes claras em relação a essas questões.
Diante das circunstâncias globais que fizeram dos consumidores mais conectados, informados, exigentes, engajados e conscientes, podemos até mesmo afirmar que daqui a alguns anos não haverá varejo sem tecnologia. Dessa forma, o investimento em tecnologia não apenas otimiza a estrutura da empresa, mas também proporciona melhores experiências para os consumidores. Um exemplo disso é que se torna possível, após uma compra online, traçar um perfil detalhado de consumo de um indivíduo e passar a ofertar produtos direcionados.
Portanto, as companhias que implementarem o movimento de digitalização com excelência poderá desfrutar de ganhos simultâneos de eficiência , receita e custos. No entanto, é consenso entre as análises que os melhores resultados esperados se concentram na melhoria da eficiência operacional.
Tainah Benevides
Institucional
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